quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Crônica de um aprendiz

Hoje, reencontrei, de manhã cedo, antes do trabalho, um velho conhecido, amigo meu.

Quando eu era uma criança, esse amigo costumava dizer que eu era um garotinho lindo, que tinha grandes olhos castanhos e espertos, cachinhos de anjo moreno e bochechas gostosas de apertar.

Aos sete anos, o amigo me viu chorar e perguntou:

– Por que choras?

Inocente, não soube responder.

Aos doze, ele tratou-me indiferente. Era a Adolescência, cruel com suas palavras de mudança, desordem; e me transformava no “patinho feio” que ninguém queria beijar ou namorar.

Ele me dizia estranho.

Triste eu era e o amigo, escarnecendo-me, indagou:

– Por que és triste?

Infeliz, não me atrevi sequer a responder.

Adolescendo, àquela maneira torta, eu vi pessoas aproximarem porque eu tinha um riso forjado e uma segurança aparente tal que elas curtiam minha companhia.

Eu fingia e o amigo, curioso, inquiriu:

– Por que finges?

Mentindo, fingi não entender.

Eis que a Tempestade veio com suas palavras de frio, medo, solidão e incerteza. Os sinceros amigos preocupados se mostraram com minha ausência, minhas neuras, meu mundinho paralelo.

Sofrendo estava, e o amigo, preocupado, interrogou:

– Por que sofres?

Sofrendo, não tive forças pra responder.

A vida corre, o tempo escoa, mudanças ocorrem tais que um muro ergue-se à minha volta. Os demais tentam pulá-lo e se machucam.

Fechado eu era, e o amigo, intrigado, questionou:

– Por quem esperas e porque relutas?

Esperançoso, reservei-me o direito de não responder.

Renovada a força, olhei pra mim mesmo e finalmente gostei do que vi. Um homem feito me empenhei em melhorar. Algumas intervenções e o “patinho feio” se tornava um “Cisne Branco”.

Sorrindo estava e o amigo exclama:

– És risonho. Vejo em teus olhos e em teu corpo, suas feições são mais claras e o teu sorriso, sincero.
Empolgado, o Espelho, meu amigo, me pergunta:

– Que fizestes?

Ao que, satisfeito, eu respondo:

– Aprendi a ser feliz.

* * *

...No fundo é uma eterna criança
Que não soube amadurecer...
Resposta ao Tempo; Nana Caymmi

4 comentários:

  1. Que lindo!!

    Aprender a ser feliz é difícil, né? Muitas vezes demora uma vida inteira!

    Abço ^^

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  2. Que bom seria se todos crescessem dessa maneira...

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  3. Que analogias legais... vivi isso também... foi bom ler.

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