terça-feira, 2 de setembro de 2014

Tensão

Eu fixei o olhar num ponto fixo do painel de madeira da sala dele e ali permaneci.

Foram cerca de 40  minutos de conversa que mais me pareceu uma eternidade.

Devolvi a furadeira e as brocas dele. Sentei no sofá da sala e iniciei o discurso do fim.

O mais doloroso ali, naquele momento, era encará-lo. Olhar aquele olhar pelo qual me apaixonei há cerca de um ano e meio, enquanto eu despejava as palavras que doíam, se não mais em mim, tanto quanto acho que doíam nos ouvidos dele.

Despejava porque não fui capaz de segurar o olhar por mais de cinco segundos enquanto anunciava o fatídico final de uma história que eu não queria que tivesse um fim.

Me incomodava a incapacidade dele em preservar e conviver socialmente num círculo de amigos próprios. Mas me incomodou mais no último mês, ele não ter vida própria.

Quer dizer, ele trabalha, se sustenta, me agrada com mimos como nenhum outro jamais fez, além de me amar e deixar isso claro. Mas a relação chegou onde eu menos queria: a tão temida bolha.

Enquanto eu meio que analisava friamente a relação no intervalo de um mês após o dia dos namorados, a nossa rotina virou apenas isso: uma rotina de almoços aos sábados seguidos de uma ida ao cinema naqueles mesmos sábados à noite, na companhia um do outro, apenas, um do outro.

Eu, fiquei inerte, quase incapaz, quando ele me perguntou: 
- O que faremos esse fim de semana?
Eu simplesmente não fazia ideia. Não conhecia mais a agenda dos meus amigos, da cidade, de nada. Estava perdido em meio à adorável selva cultural do Rio de Janeiro.


Somado isso à algumas particularidades da relação, eu disse: não.

* * *

...Me encontrou tão desarmada,
Que arranhou meu coração,
Mas não me entregava nada
E, assustada, eu disse "não"...
Teresinha, CHICO BUARQUE




domingo, 27 de julho de 2014

Atestado de óbito.

Não deu.

Por mais que eu insistisse em não ver, a diferença de personalidades entre mim e o digníssimo se tornou gritante.

Ele é antissocial. Fato. Do tipo que não convive com os amigos. Até mesmo porque colegas de trabalho e de academia pra mim, não podem ser considerados amigos.

Ele não convive com esses.

A nossa relação foi tornando-se essa bolha.

Até que mês passado pouco depois do dia dos namorados ele colocou alguns questionamentos na minha cabeça que gritaram mais forte: Sobre o que eu iria querer pro nosso futuro. Sobre como seria a nossa vida morando juntos. Coisas do tipo.

Foi então que as diferenças que eu teimava em não ver ressurgiram com força total.

Eu não tenho problema em receber amigos de fora do estado no meu ap e mês passado mencionei que duas amigas, uma de Belém e uma de Sampa viriam passar dez dias aqui. Sendo que o meu primo está morando comigo há uns dois meses porque tá procurando local no Rio pra morar. Foi quando ele me perguntou onde elas iriam ficar. Eu falei que na sala, no quarto, onde coubesse um colchão. Ele me respondeu que era muita cara-de-pau das pessoas fazer algo assim, como se fosse a pior coisa do mundo. Eu acrescentei que não via mal nenhum e foi então que comecei a refletir nisso absurdamente.

Ele está mobiliando um ap agora que está ficando lindo, pra simplesmente não receber ninguém. 

Essa falta de sociabilidade dele tornou nossa relação uma bolha. 

Ele diz que não vive a vida dos amigos, mas o Rick me falou algo que eu sou obrigado a concordar. Não vivo a vida dos meus amigos, mas construo uma história com eles.

Nossa vida saiu da rotina de comer pizza às sextas à noite na casa dele, pra virar uma sequência de idas ao cinema no shopping. Sempre só nós dois. No verão, praias, mas só nós dois.

E ele não vai alterar isso na própria vida porque é a personalidade dele, é o jeito dele e aos 41 anos de idade não vejo como isso possa mudar.

E eu não vou conseguir viver nessa bolha. Ainda essa semana, infelizmente vou terminar o namoro.

* * *
...Não, não, não suporto mais
Prefiro andar sozinha como sou...
Chega, MART'NÁLIA

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Like diamonds

Há alguns anos eu simplesmente detestava o Dia dos Namorados. Essa data sempre me lembrava da minha solidão inaceitável.

Houve uma vez em que iniciei um ensaio de namoro justamente no dia 12. Durou pouco mais de um mês, porque a relação não se sustentava em si mesma. Ele viajava à Sampa, onde mantinha um ap e, quando voltava não fazia caso algum de mim. Alegava cansaço e se eu não o procurasse, não nos víamos.

Naquela antiga rede social que se extinguiu com o surgimento da rede do Zuckerberg, eu cheguei a postar uma vez, várias fotos ironizando a data.

Entretanto, contrariando todas as previsões, pelo segundo ano estou acompanhado. O digníssimo me dobrou legal.

Não sei explicar hoje em dia, como ele consegue me manter em "estado de amor", mesmo nós dois sendo completamente diferentes.

Ano passado, em nosso primeiro ano, vimos a expressão atônita de uma mulher no restaurante, ao nos perceber saindo juntos de um restaurante, no dia dos namorados. Era óbvio a quem tivesse o mínimo de sensibilidade que éramos um casal comemorando a data. 

Estamos às vésperas de contabilizar 17 meses de namoro (ele conta desde o dia em que nos conhecemos) e, embora eu tenha pensado por diversas vezes em terminar, hoje isso nem passa pela minha cabeça. 

Fosse outra situação, por muito menos eu teria chutado o balde, cuspido uma dúzia de desaforos, dadas as diferenças de personalidade que nós temos. 

Com ele é diferente.

Eu aprendi, meramente, a conviver com todas as peculiaridades da personalidade dele. Do mesmo modo que eu teimo com algumas coisas e não há quem faça eu mudar de ideia, ele também aprendeu a fazer isso comigo. Me dobra, me convence (a contragosto) e eu, muitas vezes pra não entrar em discussão infrutífera, deixo de lado, conto até dez e retomo o meu sorriso habitual - não sem antes alfinetá-lo, claro.

E ontem, pra comemorar, fomos ao melhor restaurante da região onde moramos. Cortesia dele.

E finalizamos, com uma bela noite de sexo, como nos é habitual.

* * * 

...So shine bright, tonight, you and I
We're beautiful like diamonds in the sky...
Diamonds; RIHANNA