terça-feira, 14 de junho de 2011

Hermana mia

Tenho uma irmã.

O imprestável do meu padrasto – posto que ele é isso e, por muitas vezes e por muitos motivos essa é a melhor alcunha que lhe define – tem uma filha fora da relação com minha mãe. O dito cujo costumava dizer-me filho dele aos outros principalmente amigos do trabalho logo, esta menina é minha irmã.

Pretendo conhecê-la. Afinal a menina não tem culpa de ter nascido em meio ao caos instaurado. De tudo isso lamento ela não ser filha da minha mãe que tanto queria uma menina. Lamento mais de ter-me afastado da família dele, pois como minha mãe deixou de visitá-los, quando estive lá não tive pretexto para estreitar novamente os laços. Omissos, bem verdade, em relação ao ocorrido antes e depois de minha mãe saber dos fatos. Eu no lugar deles também absteria minhas opiniões a respeito. Contudo, pessoas de bem, referências na minha adolescência enfim.

Putz! A Bia deve estar quase com quinze anos, minha prima postiça favorita era uma criança quando a vi pela última vez e isso tem quase dez anos. A Vitória também, elas são nascidas no mesmo ano. A Renata é da minha faixa etária juntamente com o seu irmão um pouco mais novo do que a gente, deve estar empregada e Rodrigo na Faculdade. Ela já era uma morena bonita, deve estar um mulherão. Ele deve estar mui guapo ainda mais se for adepto de algum esporte ou musculação.

Memoráveis eram os almoços seguidos das jovens tardes de domingo na casa de uma das irmãs dele, Onilza que estava sempre bordando algo em ponto de cruz ou cozinhando enquanto Aliete, a outra irmã lia um livro, preferencialmente Espírita e minha mãe, tagarelava, quase sempre sobre novidades ou artesanato. Os pais, no Clube do Bolinha falavam sobre futebol, política ou vizinhas gostosas freqüentemente. Rodrigo e eu, molecotes, implicávamos com a Renata ou chutávamos algum copo de cerveja pelo chão da casa, sem governo de nossas pernas ainda no meio da puberdade. Bia e Vitória corriam por aí ou brincavam de boneca em algum canto da sala.

Reunidos para o almoço a trilha sonora era invariavelmente MPB, de Luiz Melodia à Cássia Eller. Os assuntos, atualidades, piadas, ou falar mal da vida do outro irmão que raramente estava presente, sempre às voltas com a ex e atual esposa ou a amante, que dando o golpe da barriga, integrou o Michael àquela genealogia.

Melhores ainda eram os fins-de-semana na casa de praia no Marajó. O entardecer e os búfalos marajoaras emprestavam um quê de singularidade ao local. Desligados da correria do continente, o peixe envolto em folha de bananeira e assado na brasa até hoje dá água na boca só de lembrar.

Bons momentos que outra geração à qual pertence a minha irmã talvez aproveite e quiçá a minha geração ainda possa aproveitar...

* * *

...Te ensinar coisas da vida

Ser seu guia ou o que for...

Irmã de neon; DJAVAN

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