quinta-feira, 13 de abril de 2017

Urgentemente

O novo namorado é antigo, posto que é como se eu o conhecesse desde sempre. É aquele com o qual eu não tenho pressa de fazer planos, mas que tenho vontade de construir algo junto.

Aparadas as arestas iniciais de uma certa infantilidade que não me fazia levá-lo muito a sério, a relação teve suas fases.  A inicial foi a do ciúme. Que rendeu discussões de relação homéricas (as famosas DR's) com duração de três horas, elaboradas por semanas na mente dele, e nos momentos mais inoportunos como no dia dos namorados ou na semana após o nosso aniversário de seis meses juntos.

À essa fase seguiu-se a da ilusão. Foi a melhor, onde me iludi deduzindo que tudo estava certo pois, após uma DR decidimos por não segurar aquilo que nos incomodava. Ele apenas resolveu deixar de lado o que o incomodava, sufocando até a hora em que mais não pôde. Às vésperas do Natal foi justamente onde eu percebi que estava me iludindo julgando agir corretamente, ou pelo menos pensando que tudo finalmente fluía.

Separei então meu uniforme militar que nunca banalizei o uso. Muitos ex-namorados nunca me viram usando e pouquíssimos tiveram a honra de despir do meu corpo a farda que encobre o largo peito varonil. Mais largo pelo orgulho de usar por todo o tempo que me dediquei ao Serviço Militar, ainda que concursado fosse. Ajustei, lavei, separei e, pra minha surpresa, explode uma nova DR no dia em que eu deveria guardar pra todo o sempre como nosso primeiro aniversário juntos. 

Até que eu, brincando, disse a ele que não o ouvia mais dizer que me amava e perguntei: Ainda me amas? Ele disse, que não tinha mais tanta certeza. A partir daquele momento eu não tive mais segurança em nada. O meu ponto de estabilidade ruiu. E eu não estou sabendo conduzir um restauro de urgência.

 * * *

...Preciso conduzir um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente...
Todo o Sentimento; CHICO BUARQUE


quarta-feira, 22 de junho de 2016

Anjo Gabriel

O anjo era mais novo que eu. 

Talvez por isso, mais inseguro, embora um tanto maduro devido às dificuldades que só uma família repleta de peculiaridades pode proporcionar. 

Entretanto a imaturidade era refletida num excesso de carência. Do tipo que incomoda. 

Eu aprendi com a vida (de forma totalmente equivocada) a me negar o direito de ser romântico. Eu era demais, confesso. Do tipo que se apaixona por um beijo e construía relações que só existiram na minha mente fértil. Eu não me deixei iludir. Eu iludi a mim mesmo, numa tentativa de me sentir amado. 

Se coloque no meu lugar: numa cidade estranha, sem amigos de infância, sem família, sem referencial algum e saindo do armário. Qualquer um que me desse um pouco de carinho ainda que momentâneo era sério candidato a Príncipe Encantado.

Dado o breve "essa é minha vida", algumas pessoas que se sucederam tiveram de mim aquilo que, em dado momento, o que pude oferecer. 

Com o anjo não foi diferente. Como disse ele externava um carinho que me incomodava. Talvez eu tivesse me esquecido como era receber carinho de alguém. 

Por algumas vezes ele tentou terminar, por algumas vezes eu consegui reverter. Até o dia em que ele teve sucesso... Garoto de fibra, mas nem ele aguentou. 

* * *
Chega perto e diz: anjo... 
Anjo; ROUPA NOVA 

quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

Mais um idiota?

Será  que estou me tornando um idiota insensível  ao longo  desses 13 anos de profissão ou apenas deixei de ser um mero tolo suscetível e crédulo?

Trabalhar com mulher é complicado, ainda mais quando a mulher em questão tem tendência a ludibriar os parceiros de escala de serviço.

Mediante isso, utilizei de hierarquia para convencer, através de meios lícitos, claro, essa mesma mulher a devolver o serviço que eu fui escalado no lugar dela.

Conhecedor da artimanha da condição feminina desta, não tive problema algum em, de certo modo, coagir para que a minha vontade, a qual eu considero justa, fosse acatada.

Dei à ela três opções, sendo a última, a assinatura de uma parte de ocorrência na qual anexaria todo o print da conversa pelo aplicativo de smartphone utilizado inicialmente.
Eu entendo as motivações dela mas, também sei que todos temos problemas. E eu não poderia ser penalizado no acordo prévio em virtude dos problemas pessoais de uma mulher com certa fama de trapacear quando seus interesses estão em risco.

Entendi perfeitamente que ela tem uma filha pequena, que a busca todos os dias na creche e tal, entretanto, definitivamente, esse não era um argumento o qual eu estivesse disposto a entender. Acrescido a isso ela só poderia, em virtude do compromisso com a filha, estar de serviço no primeiro horário, sendo liberada às 14h.

Ainda tive a consideração de desfazer a troca justamente no dia em que eu estaria de manhã num dia em que não haveria expediente onde trabalhamos.

Expostos e explicitados os fatos, retomo a reflexão inicial:

Será  que estou me tornando um idiota insensível  ao longo  desses 13 anos de profissão ou apenas deixei de ser um mero tolo suscetível e crédulo?

* * *

...O bonde São Januário leva mais um operário:
sou eu quem vou trabalhar...
O bonde São Januário; ATHAULFO ALVES

terça-feira, 30 de junho de 2015

Já não sinto nada...




Prometo voltar em breve e contar as novidades dessa relação que tem me deixado desnorteado...

Enquanto isso, compartilho com vocês esse texto na íntegra do Daniel Bovolento, do blog Entre todas as coisas (com sua devida sugestão de música pra ouvir ao ler) :

"Depois que terminei meu namoro, senti que as coisas deram a devida reviravolta que eu tanto proclamava. De 4 a 6 semanas foi o suficiente pra poeira baixar e chegar ao limbo. O limbo é aquele lugar calmo, não muito raro, que todo mundo tem dentro de si. Um sótão que não é escuro, não abriga histórias de terror, não tem nada a ver com os filmes. Passei um bom tempo lá e confesso que tava até feliz por não ter que me distrair com ninguém a não ser eu. Depois de todo fim a gente precisa de um tempo pra cuidar da gente, botar a cabeça no lugar, sair por aí pegando uma infinidade de gente – papo chato de autoafirmação, aposto que você me entende. E depois de tudo isso, a gente para lá no limbo pra tomar uma cerveja.
De uns meses pra cá eu senti nada. Sentia nada, nadinha. Nem por uma, nem por dez das pessoas que jantaram comigo – e não é exagero, foram dez mesmo. Mexicano, japonês, italiano, comida no parque, jantar na casa dela, McDonald’s no shopping, rodízio de pizza, crepe na Voluntários, cachorro-quente num aniversário, sobremesa aqui em casa. A cada pessoa nascia aquele interesse curioso que era rapidamente sucedido pela preguiça de se dispor, de ter que contar toda a minha história, de ter que voltar pro grande jogo das conquistas.
Não me entenda mal. Eu sempre gostei de conhecer gente. Sempre gostei de ter um coração meio vagabundo que se encantava fácil, que era só achar quem tratasse bem ou batesse um pouco que ficava grudado no celular esperando resposta. E agora nada. Nadica. A maior demonstração disso foi quando superei o medo irrefreável de tirar o last seen do Whatsapp. Não tenho esperado mais resposta de ninguém e tenho tido pavor de responder alguém que não sejam os meus amigos. Ontem, por exemplo, eu peguei um ônibus lotado e um senhorzinho puxou assunto. Contou da vida, perguntou da minha. Monossilábica, meu senhor, é assim que ela anda. Nem escondi a intolerância e tratei logo de botar dois fones no ouvido pra me esconder do desconhecido. Reparei que a gente sempre faz isso na vida. A gente sempre abafa o que tenta incomodar a apatia com algum som familiar, com alguma memória preenchida ou com a desculpa de que a gente tá sempre ocupado e não pode prestar atenção. Eu, assim como um monte de gente, não quero sair da inércia, não quero sair daquele limbo sentimental a menos que alguém me puxe.
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E isso me leva à outra questão: por onde andam essas pessoas que costumavam puxar a gente? Já falei sobre timing e sobre um monte de ingredientes pra equação, mas nem exijo amor, não. Uma história à toa, por menor que seja, só pra não lidar com o egoísmo da solidão. E nada de aparecer alguém que dê match na vida real como a gente dá no Tinder, ninguém que faça a gente ter vontade de continuar um papo tranquilo sem cobrança, mas com vontade de continuar. Quando falo em gente interessante, me refiro única e exclusivamente a quem se conecte com a gente de verdade, para além do mundo virtual e dos telefones da vida. Outro dia perguntei pra um amigo se ele sentia que as pessoas interessantes tinham sumido e ele disse que sim. Mais uma corja de amigos recém-separados e na mesma faixa de idade responderam o mesmo. E isso me faz pensar se a gente é que ficou desinteressante ou se o limbo emocional – nossa casa constante com o passar dos anos e dos relacionamentos – acabou tornando a gente mais exigente e maduro. Ou se realmente anda difícil encontrar conexão emocional numa época em que os aplicativos de pegação, a variedade de opções e a falta de tempo costumam transformar em instantâneos os relacionamentos que já estavam se tornando efêmeros.
Daqui do limbo as coisas vão de mal a monótonas. Cada novo encontro mostra que a barra de compatibilidade do last.fm tá quebrada. E eu já não sei mais se é a gente que deixou a coisa da conexão emocional se apagar por conta do momento, da apatia, da vontade interna de manter as coisas caladas ou se o mundo não tem proporcionado bons encontros com gente interessante – que deve andar escondida. Ou nós mesmos nos tornamos desinteressantes pela apatia. A única coisa que sei mesmo é que o Arnaldo Antunes nunca fez tanto sentido como hoje. Enquanto eu escrevia esse texto, um trecho dele martelava na minha cabeça, no meu limbo, na minha falta de interesse: “Socorro, alguém me dê um coração, que esse já não bate, nem apanha”."




terça-feira, 10 de março de 2015

Carência ou Insanidade / Namorado ou Terapia?

Não tendo muito o que fazer da minha segunda feira de folga, fui ao cinema.

Lá, assisti um filme que, mesmo tentando ser comédia, tem um desfecho não usual e que me levou a refletir bastante na saída do cinema pois, me identifiquei e muito com as personagens.

Daí a pergunta: Carência ou Insanidade, e qual a cura? Namorado ou Terapia?

Calma. Não pretendo ser tão didático como o filme foi em seu desfecho bem como não direi o nome do filme, mas o meu questionamento é até que ponto nos inventamos a cada relacionamento tentando nos acertarmos com o outro? (Moral do filme e ponto de partida desse post).


Eu sempre fui bastante romântico, confesso. (Não espalhem, tá?) Quase o último daquela música do Lulu Santos. Isso pode ser notado nos primeiros posts desse blog, pra quem me acompanha ou mesmo pra quem queira procurar nos arquivos a partir de 16 de Julho de 2007, data do nascimento desse diário virtual, nem sempre diário, mas essencialmente virtual.

Deixei esse romantismo todo de lado (ou quase) com o tempo. Esse espaço aqui que era o meu jardim, assumiu de vez a identidade de 20 e poucos. Hoje 30, bem-vividos. Mas na essência, mesmo nunca mudamos, então...

Na tentativa de me curar de pretensos relacionamentos que inicialmente só existiam na minha cabeça, decidia na época por me violentar, vestindo a melhor cara de puto e enchendo a cara na boate gay da moda no centro da cidade. Perda de tempo, mas ganho de experiências. A cada nova foda no final da noitada uma futura frustração amorosa estaria prestes a surgir.

Involuntariamente feri um coração ou dois, mas acho que feri mais a mim mesmo no final desse processo que não foi lá muito duradouro. Eu era o cara romântico que queria namorar, mas que teve que se reinventar pra sobreviver.

Nesse processo de reinvenção, tive muitas personalidades:
Romântico, Sonhador, Disponível, Forjadamente desinteressado, Puto, Escroto, Grosso, Apaixonante, Idiota...  Pra cada ex uma personalidade e no fundo, sempre a mesma: um tolo apaixonado tentando ser algo pra alguém.

O último estava longe de ser o Ideal, mas foi o que mais se aproximou disso. Éramos inteiramente díspares na personalidade, principalmente, mas nos amávamos.

Foi o único que me amou exatamente do jeito que eu sou e pelo qual eu estava desacelerando meu estilo de vida pra me adequar a ele. Mas o inverso, não aconteceu, ele não mudou por mim, e pelo visto nem iria. 

Felizmente, ou infelizmente, eu deletei o número de celular dele da minha agenda. Ontem, de certeza, durante o momento de carência/ insanidade eu teria travado contato.

E de novo, o que me falta, me pergunto: Terapia ou Namorado?

* * *

...E dentro de você existe o bem e o mal e a escolha certa
Bem ou Mal; NX ZERO

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Farei falta?


Após o Carnaval, que nunca acaba na quarta-feira de cinzas quando se tem pela frente Monobloco ou Mulheres de Chico pra curtir no fim de semana pós folia de Momo, as resoluções de final-de-ano tornam-se cada dia mais prementes.

Embora eu não tenha feito nenhuma porque nunca as cumpro, os fatos se encarregam de listá-las:

1 - Definitivamente cuidar mais da minha saúde
Natação ao menos três vezes por semana nem que seja após o treino de musculação para relaxar.
Nutricionista para que a musculação gere resultados e para que eu me alimente melhor e não precise de suplementos no futuro.
Dermatologista porque as pessoas no trabalho após sete anos resolveram implicar com a minha barba.
Bom, psicólogos e psiquiatras devem entrar no item seguinte.

2 - Tentar ser alguém melhor, mais sociável.
Levar a ferro e fogo as medicações controladas das quais faço uso e não simplesmente seguir as prescrições quando acho que algo está dando errado.
A esse subitem inclua-se a psicoterapia.
Aprender a respeitar o outro, e a mim mesmo, aprender a pedir desculpa e a me desculpar comigo mesmo. 

3 - Ter mais educação.
Terminar de ler os livros que estão em minha cabeceira, pelo menos na volta do trabalho quando geralmente enfrento o trânsito.
Me dedicar mais seriamente a um pré-vestibular. De repente um teste vocacional sério pode ser de grande valia.
Aprender a dizer bom-dia, obrigado, até logo, disponha, olhando nos olhos das pessoas e não apenas por estúpidas e mecânicas convenções sociais.

4 - Não perder minha essência e aprender a fazer falta às pessoas.

5 - Lembrar que, infelizmente, a maior parte das resoluções depende de uma reeducação financeira.

(Será que preciso de um outro mochilão como no final de 2012?)

* * *

Logo mais a manhã já vem...
Serpente; PITTY

domingo, 1 de fevereiro de 2015

Liberdade, ainda que tardia.

Ainda sobre o afastamento que doeu cerca de um mês e meio: Coincidência ou não, naquele espaço de tempo (incerteza do término - término - incerteza de um possível retorno), eu retomei a terapia. E já não era sem tempo.

Óbvio que a relação que tínhamos foi pauta absoluta nas primeiras sessões. Impossível ser diferente.

Voltamos no dia do aniversário da amiga, claro sob novas condições inerentes a uma nova fase de relação. E essa nova fase inicia-se com um final de semana em lua-de-mel em Sampa. Consegui mostrar a ele uma cidade rica culturalmente que ele não conhecia.

Eu tinha duas viagens marcadas nos meses seguintes, uma de volta à Sampa e outra à Foz do Iguaçu. Em nenhuma das duas ele poderia estar presente. E ele me culpou de estar levando vida de solteiro por conta disso. A de Sampa ele estranhou ser tão longa e a de Foz, alegou que eu não me despedi antes de viajar. Ele me culpava por ele não poder fazer parte dessas viagens. Mesmo que eu o tivesse convidado previamente, antes mesmo do primeiro término. 

Uma semana após eu ter voltado de Foz, tivemos uma dr que levou ao término. Somamos todas as pequenas diferenças, novas e antigas, ao fato de ele não ter mudado uma vírgula do acordado e ao fato de eu estar correndo risco constante e iminente de entrar na bolha novamente. E, como eu havia retomado minha vida de viagens e eventos com os amigos aos quais ele não fazia questão de participar (como deixou claro), terminamos.

Tem doído menos, vida que segue.

* * *
...Me libertei daquela vida vulgar
que eu levava estando junto à você...
Agora só falta você; RITA LEE