O novo namorado é antigo, posto que é
como se eu o conhecesse desde sempre. É aquele com o qual eu não tenho
pressa de fazer planos, mas que tenho vontade de construir algo junto.
Aparadas
as arestas iniciais de uma certa infantilidade que não me fazia levá-lo
muito a sério, a relação teve suas fases. A inicial foi a do ciúme.
Que rendeu discussões de relação homéricas (as famosas DR's) com duração
de três horas, elaboradas por semanas na mente dele, e nos momentos
mais inoportunos como no dia dos namorados ou na semana após o nosso
aniversário de seis meses juntos.
À
essa fase seguiu-se a da ilusão. Foi a melhor, onde me iludi deduzindo
que tudo estava certo pois, após uma DR decidimos por não segurar aquilo
que nos incomodava. Ele apenas resolveu deixar de lado o que o
incomodava, sufocando até a hora em que mais não pôde. Às vésperas do Natal foi justamente onde
eu percebi que estava me iludindo julgando agir corretamente, ou pelo menos pensando que tudo finalmente fluía.
Separei
então meu uniforme militar que nunca banalizei o uso. Muitos
ex-namorados nunca me viram usando e pouquíssimos tiveram a honra de
despir do meu corpo a farda que encobre o largo peito varonil. Mais
largo pelo orgulho de usar por todo o tempo que me dediquei ao Serviço
Militar, ainda que concursado fosse. Ajustei, lavei, separei e, pra
minha surpresa, explode uma nova DR no dia em que eu deveria guardar pra
todo o sempre como nosso primeiro aniversário juntos.
Até
que eu, brincando, disse a ele que não o ouvia mais dizer que me amava e
perguntei: Ainda me amas? Ele disse, que não tinha mais tanta certeza. A
partir daquele momento eu não tive mais segurança em nada. O meu ponto
de estabilidade ruiu. E eu não estou sabendo conduzir um restauro de urgência.
* * *
...Preciso conduzir um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente...
Te amando devagar e urgentemente...
Todo o Sentimento; CHICO BUARQUE