Por isso mesmo, visceral ao extremo. Foi a única que abertamente soube da minha condição de ser bi. Numa bela noite, eu, atacado, cheguei pra ela e perguntei:
-Você quer mesmo namorar?
Estávamos decidindo se reatávamos namoro ou não. E descarreguei todas os motivos por eu ser bi. Ela não aguentou. Depois da discussão saiu da minha casa irada, retornando, dias depois.
Pra minha surpresa e espanto geral da nação ela topou.
O que maias a incomodava, no entanto, não era o fato de eu ser bi. Ela tinha medo que eu a usasse de fachada, transmitisse doenças a ela, que eu fosse promíscuo, ou ainda, que eu me apaixonasse por outro cara e a trocasse por esse suposto ele.
Situações infundadas, claro. E naquela época o que me orientava nesse setor homo da minha sexualidade era pura e simplesmente o tesão.
Houve um estopim para o término.
Ela, num ataque de fúria, querendo discutir relação e eu a estava evitando, me xingou de viadinho pra baixo, no meio da rua, quase em frente ao nosso prédio. Apertei o passo e a deixei falando sozinha. Não havia o que argumentar com uma mulher irada me xingando Às 19h em via pública.
Daí em diante não houve mais clima a não ser pra algumas transas casuais que não foram muitas.
Ela pediu desculpas perante a espiritualidade que a incumbiu de ler livros e dá-los a mim depois de os ler sem fazer nenhuma consideração. Castigo light, creio eu.
Cortei relações em definitivo, falei com ela por preocupação quanto ao pé uma outra vez e agora, essa semana, sentamos pra conversar. Sobre a troca de síndico do nosso prédio, amenidades, namoros e claro, sobre nós dois.
Ela me perguntando meio em afirmativa que eu não guardava mágoa de ninguém.
Acho que ganhei uma nova amiga.
***
Um metro e sessenta e cinco de sol,
e quase um ano inteiro os dias foram noites
noites para mim...
O girassol; IRA